Capela Tremere - University of Texas System

Enfim na Terra das Colinas. Nem mesmo o aroma de mil pétalas da mais perfumada rosa transbordaria o gozo ao seu cume máximo tal qual fazia a fragrância mista de silício, burocracia e funcionalismo público ao deleite de TATIANA. A despeito do percurso deveras exaustivo, a sensação de terra nova, mundo novo, vida nova (não vida nova) fazia da distância de Boston à Austin semelhante a jornada das borboletas: muito bela, colorida, mas acima de tudo bem curta.

Enquanto o veículo desfilava pelo Centro da capital texana a Bruxa Tremere se deleitava com as novas possibilidades que vinham com a mudança. Sua mente sórdida e espírito vazio enxergavam em cada esquina uma potencial boca de fumo e de prostituição, cada igreja, das pequenas às mais antigas e luxuosas, na mente da Succubus eram certamente futuras casas noturnas, e para as escolas eclodia grande euforia, projetos arquitetônicos se moldavam em instantes, o vislumbre do promissor montava no cérebro morto de TATIANA salas de aula funcionando como quartos, corredores como centro de orgia, quadras esportivas servido para realização de fetiches depravados e sombrios, sendo cada escola da Cidade um bordel diferente, cada um com peculiaridades ímpar, iguais somente na qualidade das putas, pois na cabeça mórbida da Magus as crianças mais ninfetas seriam também as mais putas e desinibidas.

O sorriso luminoso e eufórico podia ser vistos em quilômetros, salvo se não fosse pelo papel filme negro e os rituais taumatúrgicos que cobriam o vidro do carro, do contrário a felicidade da Garota seria perceptível aos quatro cantos da Terra. Cada metro andando era um metro de um novo mundo sendo descoberto. A excitação da Bruxa a alinhava paralela aos filmes de pornô mais baixos, àqueles escondidos por ter cenas proibidas para a humanidade e todos os seres deste plano e de todos os outros, verdadeiramente descomunal.

Perto do território da regência local, avisada por seu sábio e amado mentor, ao qual é ligada pelo beijo de Caim e pela peça da Velha, a Bruxa inicia o ritual de apresentação, colocando em suas mãos um pequeno papel imbuído em uma loção mística, TATIANA aduz para todos os Membros de seu Clã, pausadamente, com seu carisma e voz angelical, etiqueta nobre e modos refinados, o que segue:

- Saudações honrosas! Eu, TATIANA JOSÉPHINE TERESA CHARLOTTE MARIE WIHELMINE, TATIANA DE LUXEMBURGO, Regente de Sétimo Ciclo do conhecimento exotérico de nossa Casa, cria do Venerável Lord da circunscrição Norte da América, GUILHERME LORRIS, banhado pelos Sete a serviço do Magnífico Exaltado Seja o Grandioso TREMERE, descendente de MEERLINDA, venho até Vossa Comarca pugnar auxílio sob o julgo dos serviços a mim conferidos. Em troca de sua hospitalidade e generosidade serei útil a Vosso Círculo ao que me for designado, bem como sei que a recíproca será sempre verdadeira. Diante do meu posto, de minhas ordenanças, e ciente de que poderei instruir e solidificar os conhecimentos desta Kabalah, renovo os votos de estima e me dirijo a Capela de Ausntin para receber hospitalidade.

Sabendo o Endereço da Capela e indicando-o ao motorista, a bela Tremere que supervaloriza o senso estético da moda contemporânea, viaja levando consigo oito grandes bolsas de couro legítimo de crocodilo branco e um enorme baú de madeira de acácia árabe. Ao que tudo indica duas bolças carregam apenas saltos e mais duas bolças lingeries. Ao chegar na Capela, TATIANA de pronto fita os portões de ferro e a imensidão do local. Instantaneamente, um instinto próprio, faz a Garotar sentir falta de imagens desnudas, fontes de água com cupidos, obras inspiradas no barroco, mas, ao mesmo tempo, a curiosidade e até mesmo um pouco de receio a invadiam, turbilhoando sua excitação a um nível ainda maior. De certo que a única coisa para melhorar aquele fim de noite seria a sedução de um belo jovem Austinites, ao qual provavelmente não sobraria nem os ossos no escurecer da noite seguinte.

Aguardando ainda no veículo TATIANA espera que seu motorista, Lacaio de seu Mestre, fizesse contato com algum Membro da Capela. Nesse meio termo, a bela Jovem escova seus longos cabelos da cor do ouro, segurando um pente majestoso, provavelmente osso humano do século IX, envernizado e entrelaçado por brilhantes. Ainda, enquanto aguardava, olhando constantemente para o seu grande espelho carmesim folheado a ouro misticamente tingido, a Tremere se certifica de que continua tão bela quanto as deusas do Olimpo, e se agrada com o que vê.

Algo em TATIANA, provavelmente seu temperamento egocêntrico, faz bem no fundo de seus pensamentos uma faísca que se incomoda com a recepção precária na frente da Capela, geralmente seu prestígio e conhecimentos fizeram de outras ocasiões de mudança uma festa da qual a Magus é protagonista, recebida por diversos membros e não membros. Mas o pensamento de que, pelo menos, carniçais serão enviados para recolher suas bolsas ainda traz alívio a essa faísca, desse modo, o fogo é contido sem muito alarde.

A pompa do local seria admirável. Seria, apenas seria. Entrementes, no meio do terceiro e do quarto sobrenome da Bruxa, herdeira da Casa de Luxemburgo, TATIANA preservou a sumptuosidade, designação que faz jus a habitualidade com a qual a Garota enxerga o mundo de opulência. O fascínio da Tremere sempre esteve de certa forma no helenismo, nos projetos excêntricos, provavelmente se a Capela fosse uma franquia de FastFood mística onde humanos engordavam e praticavam incessantemente a glutonaria de forma bárbara, pentear os cabelos talvez não seria a ação mais interessante do momento.

Incapaz de envelhecer, a Bruxa tranformada com tenra idade nunca entendeu as razões para abraçar humanos em idade avançada, em sua visão, seria o mesmo que condenar as pobres criaturas (os idosos) a uma eternidade de decrepitude e falta de libido. A vida no Castelo de Berg e a criação na escola católica Ampleforth College de Londres só reforçavam a concepção de TATIANA, onde todos os velhos eram ranzinzas enrustidos, homens impotentes e mulheres incapazes de produzir a própria lubrificação vaginal.

Orientada de que a Capela seria em uma das Universidades do Texas, ainda mais na de Austin, em seu âmago a Tremere nutria a esperança de que haveria no local cerca de dezenas de fraternidades, jovens perambulando sozinhos pela noite. E para sua surpresa, algo que a Vampira se acostumou ao longo dos anos dentro do Clã, quem vem lhe receber é um velho, vestido como uma múmia pronta para ser embalsamada. A Bruxa balbuciava orações em baixo tom, implorava para Afrodite que os outros Membros e não Membros da Capela tivessem pelo menos o zelo de se vestirem com roupas que não fossem costuradas nos moldes do século XVIII.

Apesar de seus pensamentos, com o passar dos anos dissimulando e espalhando a danação ao lado de seu Mentor, a desenvoltura da Kindread, sua expressão e performance, tudo nela, parece impecavelmente afável. Não há sequer um único deslize. Quem a vê enxerga uma bela donzela, aquelas princesas dos contos de fadas, sempre humildes, bondosas, receptíveis, seres tão iluminados que só existem na ficção. Estar ao lado da carismática Tremere exala o aroma da segurança, o vapor do conforto. Não houve sequer uma Harpia em toda a história que não tivesse méritos para espalhar de TATIANA. Seu conhecido sorriso translúcido e envolvente é uma armadilha criada pelo próprio Rei do inferno, não há quem resista ou o esqueça.

Contagiante, muito mais que seus belos dentes sorrindo,são os lábios sempre rubros da Feiticeira, macios, leves, carnudos, uma boca esculpida pelos deuses. E os seus olhos? Desses nem é preciso comentar, olhos azuis como a ambrosia de Dionísio, extraída das mais belas uvas e flores silvestres, só não se comparam com a voz suave e gentil da Rapariga, um som tão encantador quanto o mais belo coro angelical de mais alta patente.

Sondando o perímetro, em especial os locais mais distantes do Campus já não próximos da Capela, a Bruxa tenta enxergar alguma movimentação de mortais, ao menos um clube de xadrez noturno, algo que não fosse repleto de velhos e quinquilharias. O aspecto de hospital e laboratório moderno, de poucos e quase nenhum tom avermelhado, sem quadros e pinturas cubistas ou renascentistas, nada do período helênico, fizeram sumir a excitação de TATIANA, desapareceu instantaneamente, tal qual um pênis brocha e uma ejaculação precoce.

Seu rosto, porém, nada demonstrava senão uma garota feliz, inocente e que parecia ter chegado pela primeira vez na Disneylândia. Ao ser indagada sobre a porta, TATIANA exita por alguns segundos, a vontade de voltar pra Boston lhe consome por um instante. A faísca torna-se um incêndio, mas não qualquer um, compare com as chamas que sucumbiram São Francisco e eleve ao quadrado. Se não fosse sua fidelidade aos desígnios do Clã e sua subalternidade a seu Mestre, provavelmente a Tremere nem pensaria, já estaria milhas de distância daquele lugar que cheirava a problema.

Incomodada por não ser recebida por um aprendiz, mas por um Carniçal, uma atitude nada comum dentro do Clã, sem conhecer o Regente, sem saber quem a espera no Interior da Capela, com os olhos voltado para uma direção oposta, vidros fechados, embora sem demonstrar toda a arrogância e rispidez que havia em sua mente, de forma gentil, todavia abrupta, a Vampira exclama:

- Choffer! Por favor, volte para dentro do veículo. Assuma seu posto e estacione em um local de desembarque adequado.

Leitora assídua de Maquiavel, a herdeira do Ducado de Luxemburgo não permitiria que a vissem andando em cima de asfalto, só a imagem dessa cena era inconcebível. Não ter um hostess ou o Carniçal da Capela ter vindo abrir a porta, certificando de que alguém levaria as malas, parecia que a etiqueta europeia nunca pisou nos solos daquele local.  

- Aguardaremos que algum Membro venha se apresentar. Se houver um estacionamento privado, coberto, algo escondido que dê acesso à Capela estacione lá.

Mesmo que tênue e de aparência inofensiva, o motorista, mais próximo da Kindread, podia perceber que ela estava falando sério.
- Precisarei de vinte minutos em silêncio. Durante esse período peça que o Carniçal espere do lado de fora ou chame algum aprendiz da Capela, não é praxe mostrar minha face a desconhecidos.

Cautela demais nunca é demais. Assim pensa a jovem Bruxa, receosa de pisar em solo estranho sem a presença de outro Membro. Magus conhecem o poder de Runas e rituais, entrar em uma capela exige seguir os caminhos precisos pisados por um Membro dela, um passo em falso e toda a tranquilidade pode ir pelos ares. Esperando a reação de seu motorista, a jovem Bruxa inicia um mantra em silêncio, pequenas orações repetidas que se assemelham a uma chamada de contato. De olhos fechados e palma das mãos juntas a Tremere procura se comunicar com seu Mentor. As comunicações frequentes com o Mentor fazem qualquer membro pensar que há um Paramour entre eles, mas o estado de dominação e filiação compulsa a Vampira a sempre detalhar acontecimentos com seu mestre, logo, semanalmente ou com mais frequência, ambos se comunicam. Obstante, dessa vez, TATIANA está querendo externar sua preocupação sobre as tradições da casa não respeitadas, vendo a possibilidade inclusive de não se alojar na Capela, procurar uma cidade vizinha para se fixar, ser recebida por algum aprendiz de sexto ou sétimo circulo ou até mesmo o Regente, ou ainda, a possibilidade de fundar outra Capela na região, caso que deverá ser lavado para apreciação do Lord do Sul da América, ao qual Lorris tem forte conexão.

Ser interrompida durante a manifestação do ritual de contato ao Mentor nunca gerou consequências agradáveis. Certa feita em Londres TATIANA iniciou a chamada, momento em que foi interrompida em razão de uma forte nevasca. Minutos após, seu Mentor de forma mística se materializou no quarto da garota, provavelmente usando a trilha de Marte ou andando pela Umbra. Mas nem mesmo SMS's apaziguavam a preocupação do poderoso Lord, tendo TATIANA como sua experiência mais valiosa, sendo incabivel perdê-la.

Em Londres a Máscara quase foi quebrada, se não fosse pela destruição de todo o hotel que se instalava TATIANA e a morte de todos os hóspedes presentes, os que viram a cena e os que não pagaram o mesmo preço pela manutenção da Máscara. Tudo foi passado como obras da nevasca. Mas o certo é que coisa boa pela interrupção nunca vem.

Acordada de seu mantra, a Vampira o motorista e suavemente aduz:

- Siga o veículo que está dando sinal. Reduza a velocidade e fique atento. Feche todos os vidros em seu máximo.

Enquanto ordenava a Magus ajeitava suas jóias, dentre elas a Bruxa se adorna com um anel rubra, no anel estava uma gota de seu sangue pronta para ser trocada por qualquer um que o tocasse. De longo vestido vermelho da grife Valentino, TATIANA espera ser guiada, sempre calma e serena. Mas atiçada e excitada pela figura feminina forte e viril que a convidava para a incerteza.

TATIANA observa, sem surpresas, Capelas costumam ser locais embriagados de excessos. Na verdade, a única surpresa eram os formosos glúteos da garota, cujo nome agora era sabido. Margot cria de Vega. Os olhos da Tremere já não escondiam seu interesse mórbido e o reflexo da luz da Lua só acentuava as coisas.

Os vidros do veículo suavemente abaixados, os olhos de criança em busca de doce misturado aos de vagabunda em busca de um grandioso falo, eram agora vistos por Margot. O contato visual do pés à cabeça demonstravam de forma leve e nobre o interesse da Tremere. E então, após uma farta olhada com um fechar de olhos podendo ser entendido como uma piscadela, a Musa fecha novamente os vidros do automóvel até que seus olhos já não podiam ser vistos novamente. Ato contínuo, em baixo tom, a garota requer ao seu motorista.

- Encontre alguém para recolher minhas malas, não vá embora até que esteja certificado de que todas as malas estejam nos aposentos que me serão designados, ainda assim, durma hoje nesta Urbe, não formei minha opinião sobre minha estadia aqui ainda.  

Dadas as ordens, ao ver o interior da Capela de dentro do Veículo, a jovem espera ser recepcionada pela bela garota, quem sabe ela não tenha sentido o mesmo, é difícil prever o que se passa na cabeça dos membros, mas uma certeza para TATIANA era de que sua sedução pode tardar, mas nunca falha.

TATIANA arruma os entornos de seu vestido concertando suavemente alguns desarranjos. A Tremere aperta o laço azul celeste em baixo do seu pescoço, confere se suas jóias estão tão reluzentes como de costume, e como de costume estavam.

A Bruxa consciente dos modus de apresentação, entorna-se de perfume árabes retirados dos aromas mais exóticos e luxuosos do planeta. Esfrega em suas mãos gentilmente o extrato de pêssegos do monte, corando e hidratando as mãos gélidas de quem já há muito está morta.

Sua vontade sombria de acariciar as nádegas de Margot pulsava no íntimo. Estripar àquelas bandas perfeitas de bunda, macios montes de carne branca sendo devorados com extremo hedonismo, tomaram a mente da Tremere por segundos. Embora sua face demonstrasse um anjo vindo da região de candura no Éden.

Mordiscando os lábios, com seus anel avermelhado em punho, salto alto Luboutin clássico, a Garota aduz ao servente.

- Por favor, ficaria muito grata em sair e esticar meus músculos. Se possível, estenda aquele tapete rubra de pele de búfala vermelha da Ásia Menor.

Insatisfeita pela demora da viagem, sempre descontente, TATIANA de forma dissimulada e com todos os pensamentos malignos em sua mente, em sua performance e beleza, continua.

- Agradeço pelos serviços prestados. Com certeza vou lhe fazer uma recomendação.

Impressionada com robustez da jovem enérgica parada, bem ali, logo em sua frente, TATIANA mordisca discretamente a parte interna dos lábios, no entanto, ver-se que o seu corpo frio emana uma aura angelical, escondendo assim os desígnios de sua mente sórdida.

De postura impecável, com suas pernas torneadas, uma obra digna do próprio Michelangelo, a Bruxa se apoia suavemente em seu motorista até encontrar fuga do veículo, entretanto, sem retirar os olhos de Margot, uma dança de sensualidade e presença começam, tudo ao som do ritmo das leves e belas pisadas de TATIANA ao chão ecoando pelo vento e silêncio do lugar.

A bela jovem aparenta ter quadris partidos em dois, quebrando-os suavemente para cada lado enquanto suas longas pernas desfilam no meio do tapete rubra. O luar refletia o tom vermelho do tapete na suave pele branca e macia da Herdeira de Luxemburgo e cada sopro de vento levavam o aroma de seu perfume às narinas de Margot. A cada passo a Bruxa parecia andar mais devagar tornando o pequeno percurso um caminho entre este plano e o último dos infernos.

Ao cercar Margot, estando em uma distância de centímetros curtos, seus belos dentes aparecem, mostrando uma arcada dentária perfeita e um sorriso tão incandescente quanto a luz do sol num amanhecer primaveril. A Garota gentilmente estende seu braço à frente de Terzaghi, declinando sua mão como somente uma verdadeira Lady seria capaz, sendo possível ver seu anel avermelhado cujo único toque poderia iniciar processo de laço com outras criaturas.

Ato contínuo, com a mão direita carregando o anel e esperando ser beijada, não por obediência ou algo que se referisse ao Clã, mas por educação e como uma mostra do interesse intimo de TATIANA, a jovem de voz acalentadora pronuncia:

- Olá, me permitiria o ar de sua graça?

Esperando ouvir o nome de Margot novamente, agora da boca dela, e ainda com as mãos levantadas esperando um acalento, a Bruxa permanece em seu posto, como se cada músculo de seu corpo trabalhasse para agarrar Margot e levá-la para o abismo da morbidez.

Ao ser confrontada por Margot, TATIANA se vê num mundo do qual sempre saiu vencedora, a mais devastadora guerra de todas, a eminente batalha da retórica. Enquanto observa a tez rígida e as palavras ásperas da filha de Ibrahim, a adorável Tremere se assemelha a uma criança sonolenta, bocejando por dentro como se não desse a mínima para o que era dito.  

Seu semblante de admiração transmutou-se em um misto de anseio por dominar, controlar, enlouquecer e destruir Margot. Não necessariamente nesta ordem, mas a única certeza era Terzaghi como a primeira de uma lista seleta escolhidos para morrer de prazer hedonista e visceral.

Terminado o discurso da Anfitriã, a Jovem com seu ar afável, aura misticamente branda e leve, TATIANA retira de sua bolsa óculos escuros, os quais coloca suavemente em sua face enquanto observa a jovem terminar suas colocações. Ato contínuo, a Bruxa que antes detinha uma voz suave e confortável, passa a usar um timbre extremamente sexualizado, aduzindo vagarosamente pela fresta dos dentes, em baixo tom, dificultando qualquer leitura à distância.

- Basta!

Em seguida TATIANA ergue seu braço esquerdo apresentando seu anel de Regente com sete rosas da casa do Clã, título muito superior ao da magus que a inquisicionava.

- As amarras da Velha não arrugam nossa Casa!

Num tom ainda mais baixo, embora de forma um pouco mais afável e com sinais de receptividade e gracejo, a herdeira de Luxemburgo continua.

- Não suba o sapateiro além da chinela! Vossa Senhoria esconde um vínculo quebrado com os sete? Por acaso não lhe ensinaram os votos de apresentação de Vossa própria casa?

TATIANA percebeu que a Vampira não recebeu a mensagem de apresentação através do regente local, nem mesmo sabia da tradição Escocesa de toque das rosas, quando Membros da casa encostam seus anéis de sangue rubra com o Ritual da Verdadeira Pedra de Sangue, onde um membro guarda sangue mortal em um anel, e alimenta seu Anfitrião como gesto de gratidão pela hospitalidade, e o mesmo é feito pelo anfitrião, caso tenha gostado da chegada de seu novo hóspede. Muito diferente do Ritual de Infusão da Vitae, cujo objeto precisa estar grafado com uma runa, impossibilitando estar em uma joia descoberta.

O laço criado pelo anel verdadeiro é o laço de amizade e hospitalidade, laço criado pelo ápice do prazer de um Cainita que é o compartilhamento de seu melhor rebanho, portanto, sua melhor vitae para àqueles que lhe dão abrigo.

- Se teu mestre não me apresentou a ti não sou eu quem vai fazê-lo, idem minhas recomendações, não entregarei a ti pois mostrou-se indignada da confiança de seu próprio Senhor, eis que não ouviu minha mensagem.

TATIANA sempre calma, como uma estátua de rocha permanece pregada em cima do centro do mármore de uma velha praça, tentando resolver a situação sem causar mais alarde e agrura, dissimuladamente (e obviamente mentindo) aduz:

- Vou esquecer suas duras palavras e atitudes! Todos cometemos erros. Provavelmente você desconhecia as tradições de nossa casa no Oeste da Europa. São ritos de apresentação velhos, esquecidos pela maioria dos membro, mas que os de minha origem insistem em cumprir.  

- Espero que possamos deixar essas magoas no passado, mas se não me conhece, não posso lhe acompanhar. Voltarei para meu veículo até que alguém digno possa me receber.

A Bruxa ergue seu vestido com as mãos e se afasta de MARGOT em direção ao carro, que ainda com a porta aberta e com o motorista a postos estava atrás da Garota. Enquanto se afasta, com a mão direita TATIANA toca o dedo médio na palma da mão, indicando para o motorista para que envie um SMS para a Grande Capela do Norte da Ámerica, indicando que há problemas e que a Bruxa precisa de ajuda.

O doce das trevas, pútrido, fétido e moldado em alcaçuz. Ambrosia inestimável, néctar dos palácios  acima do Estige, apreciado por legítimos pervertidos de corpo e alma, àqueles cuja carteira de filiação foram ratificadas pelo próprio demônio. Um delicado pedaço de luxúria, gula, inveja, ira, avareza, vaidade e preguiça, uma embocadura do subterrâneo dos sentimentos, o declínio que leva a mais baixa camada terrena, zona proibida para todos os que tem o mínimo senso de sanidade e autocontrole, êxtase da agonia e derrota.

Embriagada deste mel, líquido que escorria entre sua pernas e forçava-a ao gozo, TATIANA não vê a hora de encostar sua carne morta em uma carne mortal inocente, roubando-lhe a pureza e a decência.

Enquanto Margot se explicava, a Bruxa entra em seu Veículo, levantando as vidraças até que a voz da filha de Ibhraim já não podia ser ouvida, o que foi um alívio. Dentro do veículo a Tremere retira seus óculos escuros, olhando para as estrelas do céu a procura das constelações de escorpião e sagitário, ainda era possível enxergar o brilho de Vênus, essas táticas ajudam a Bruxa a se concentrar em seu ideal, um mundo onde os grilhões do escorpião e ponta certeira de sagitário não seriam renegados, porém,reverenciados por sua beleza medonha.

A incerteza da aurora em Austin, que poderia florescer a qualquer momento, enervava TATIANA, que já se encontrava no Interior do Veículo. Uma luxuosa Sprinter negra de fundo oco com espaço para até dois membros se recolherem.



O interior tinha tudo que a herdeira de Luxemburgo precisava, uma impenetrável proteção. O automóvel além de ter sido misticamente santificado, possuía um aconchegante ambiente interno, cortinas de aço, vidros totalmente escurecidos e taumaturgicamente reforçados. Pneus que percorriam mais de 80 km mesmo furados, rodas fortificadas e um motor com tração em todas as quatro.



O tanque de combustível estava quase cheio, TATIANA se encontra entre permanecer no interior e segurança da Mercedes, ou procurar aos últimos raios de luar um companheiro digno de lhe tocar os lábios inferiores enquanto é totalmente drenado de energias e vigor. Era cara ou coroa.

- Chofer! Vamos nos recolher por aqui, estacione o veículo em um lugar de fácil deslocamento, tranque todos os vidros e comunique o ocorrido. Peço que descanse vigilante em sua cadeira. Prontifique-se que nenhuma autoridade local ou criatura se aproxime do meu local de descanso.


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Ao escutar o motorista em sua exclamação, TATIANA que já se encontrava desnuda e pronta para encontrar as terras de Morfeus, levanta-se abruptamente, enfiando os saltos vermelhos nos pés e uma luva branca, ainda de roupas de baixo, abrindo as portas do automóvel, permitindo que a luz incandescente do estacionamento encontrasse a escuridão do interior do veículo.




Suavemente, como em cima de uma passarela numa corda bamba, a jovem Garota posta cada passo atrás do outro, uma sequência com pisadas firmes que eclodiam na imensidão do lugar limpo e vazio e que ecoava.

Ao passo que a distância entre a Bruxa e Ibhraim cessava, mais intensas eram as passadas de perna e desenvoltura em cima do salto. Até que já em uma posição devidamente aproximada, a TREMERE presta reverências ao poderoso Magus, inclinando sua cabeça para e em baixo tom.

- Saudações Venerável Magnífico, desde já esclareço que já não mais esperava Vossa companhia, razão pela qual minhas vestes não se mostram adequadas.

Aparentando uma aura de benção e ser uma doce menina, TATIANA continua:

- Venho mui respeitosamente à presença de Vossa Excelência pugnar pela vassalagem nesta belíssima Capela e imediações. Reforço que poderei ser útil, embora não pretenda ficar muito tempo nesta Comarca.

Em seguida, TATIANA apresenta a Carta de recomendação ainda lacrada.

A Bruxa que já contava com a carta de recomendação em sua mão, prontamente a retira do lacre utilizando-se, para tanto, da pedra de rubi rubra no meio de seus seios cujas lâminas da lapidação apresentavam astes afiadas.

A carta parece criar vida nos seios da bela Garota, o perfume de frutas árabes parecem ter braços que alcançam todo o local. Em seu âmago, TATIANA não gosto nada da primeira noite na Cidade, a apresentação de Ibhraim pareceu que melhoraria as coisas, mas ao saber dos problemas da Capela mais uma vez a herdeira de Luxemburgo pensa em retornar ao Norte.

A carta parecia ser bem sucinta. Ao que tudo indicava estava assinada por mais de um Membro superior, mas nada que TATIANA já não soubesse que seria de praxe, seu mestre nunca lhe faltou em uma boa apresentação.

- Fico lisonjeada. Manifesto-me pelo fortalecimento de nossa casa. Não quero causar-lhe transtornos, se houver alguma regra ou modos de conduta que seja necessário saber, gostaria de recebê-lo.

Humildemente, com olhos voltados para baixo em subserviência, a Bruxa continua:

- Cuidarei e protegerei sua casa como se minha fosse. Liberto minhas cordas para amarrar Vossos inimigos, que passam ser meus inimigos também, bem como reforço minha seda para acalentar Vossos aliados.

TATIANA observa os movimentos do Magus, sua postura delicada e frágil se acentuam depois de uma noite tão conturbada. Os últimos minutos de noite estavam escorrendo pelo céu, e a Bruxa já não continha com firmeza o sono que recai sobre os mortos.

Ao apoiar as mãos na do Bruxo, a Garota certifica-se de que não estará se escorando para não cambalear, mas foi em vão. Rouca, sem pretensões senão a de descansar seus pés imortais em um leito confortável e escuro, TATIANA que nesse momento já se apoiava nos braços do membro como uma muleta, balbucia em baixo tom:

- Sim, será uma honra.

Em seguida, num lapso de preguiça e cansaço, a Tremere se recolhe como quem vai cair ao chão, no fundo de sua alma, bem no fundo, a Garota sabia que a cena não passava de um truque de seu cérebro sórdido, mas seu corpo realmente estava cansado, e se deixou levar pela interpretação a fim de se valer do teatro para, quem sabe, se ver carregado até um local adequado.